Criacionismo vs. Evolucionismo
«(...) Queriam dar sentido mais profundo à vida humana, atribuindo-a à acção criadora de Deus “no princípio”. São actos de fé contemplativos que, com uma intuição religiosa, viam Deus em todas as coisas e todas as coisas à luz de Deus. Narrar que Deus criou o mundo era sugerir que a melhor forma de olhar para ele é vê-lo na dependência de Deus. Os mitos de criação do Génesis não são fotografia do que aconteceu no princípio, mas radiografia do que se conhecia no presente. (...)»
Armindo dos Santos Vaz (Padre, Professor na Univ. Católica), in Público, 8 de Dezembro 2006
Todos nós já, por certo, ouvimos falar de Charles Darwin. Todos nós já ouvimos falar do darwinismo social, sendo por este nome designadas as concepções dos que viram a evolução da sociedade como resultando de um processo de luta e de competição, e da qual decorre a sobrevivência dos mais aptos.
Destas ideias derivam duas correntes: uma que se apoia maioritariamente em analogias retiradas de estudos relativos à luta dos animais e plantas pela sobrevivência face às ameaças do meio que as rodeia [segunda metade do século XIX com autores como Walter Bagehot e William Graham Sumner]; outra que recorre principalmente à interpretação dos exemplos históricos de lutas entre povos e de conquistas de um povo por outro [autores como Gumplowicz e Ratzenhofer].
Mas, segundo parece, existe uma outra, que se vai impondo à sua maneira – o criacionismo ou a teoria da concepção inteligente.
Esta corrente integra um movimento religioso e fundamentalista que defende que a vida na Terra começou tal como vem na Bíblia. Ou seja, os criacionistas acreditam na veracidade da criação do mundo tal como vem no Génesis, exigindo a existência de um criador, uma entidade inteligente que escolhe criar o homem, as árvores ou os animais.
Tudo bem.
Cada um acredita no quer.
A mim, chamou-me a atenção porque já tinha visto, no canal 2 da televisão pública, um documentário sobre isto mesmo e sobre a problemática que se estava a instituir nos Estados Unidos.
O curioso é que, para muitos que não sabem, aquilo que hoje se fala muito – o fundamentalismo – surge em pleno século XIX, exactamente com o Protestantismo. Continuo a afirmar curioso que, dois séculos depois, ressurja este tipo de fundamentalismo agressivo e intolerante do criacionismo face ao conhecimento cientificamente provado.
Parece-me uma nova forma de evangelização. “’Nós’ [criacionistas] estamos certos, vocês [diria comunidade científica] estão errados e vamos mudar tudo!”
Este tudo é para os criacionistas o objectivo de modificar a forma como a ciência é ensinada na escola. A teoria da concepção inteligente é divulgada pelo Instituto Discovery nos EUA, em Seattle, e gerou controvérsia. Afinal qual é a imposição? A que explica por factos concretos, cientificamente provados ou, a que impõem com base numa fé?
O facto é que, a controvérsia chegou a Portugal.
Charles Brabec é cristão evangélico. Acredita piamente no Livro do Génesis que relata a criação do mundo por Deus e tudo o que aconteceu ao homem quando Eva escolheu aceitar a maçã que a serpente lhe oferecia.
Brabec acredita ainda:
- que a Terra não tem mais de 4000 anos (sendo que os cientistas falam em 4500 milhões de anos)
- que todos os seres vivos que hoje existem descendem as espécies salvas por Noé na sua arca aquando o dilúvio
- que os dinossauros terão perecido nessa altura mas foram contemporâneos dos humanos (apesar de haver provas de que se extinguiram há 65 milhões de aos e os primeiros homens modernos terem surgido há cerca de 150 mil anos) – gostava de ter visto o jogo do gato e do rato que seria a convivência entre os humanos e o T-Rex (no "Parque Jurássico" não deu bom resultado.....).
Tentando levar este post de uma maneira imparcial, passo a dizer que, este movimento é superior ao que se possa considerar racionalmente possível.
- na Turquia os evolucionistas são quase considerados como terroristas;
- em Inglaterra o movimento é defendido por protestantes;
- na Polónia é defendido por católicos;
- em países de Leste é defendido por ortodoxos;
- na Sérvia, uma ministra tentou introduzir o estudo da evolução como apenas uma hipótese;
- na Holanda e Itália surgiram tentativas semelhantes à da ministra sérvia;
- na República Checa houve uma conferência internacional relativa à concepção inteligente;
- na Rússia são vários os movimentos que estão a tentar implementar esta visão nas escolas tal como acontece na Alemanha;
- em Portugal?
Bem... em Portugal, é especial. Nós somos tolerantes, fazemos poucas perguntas. Charles Brabec vai abrir, na Primavera, um museu criacionista em Mafra, na Quinta Oásis, chamado Parque Discovery. O primeiro do género na Europa.
Será que os bilhetes para o circo têm desconto de cartão jovem? É importante! (Desculpem...não resisti!)
Moral da estória?
Num mundo em que combatemos um inimigo sem cara que advém do fundamentalismo islâmico, parece-me que convém perguntar como se pára este fundamentalismo cristão?
Será que, por ser um fundamentalismo do Ocidente é tolerado e aceite? Ver a ciência ser preterida à religião? Partindo do objectivo do criacionismo - novo evangelismo fundamentalista- onde se enquandra então o conceito de Estados-laicos??